Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia
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Neoplasias da vagina

Nelson Valente Martins
Neila Maria de Goes

Considerações gerais

A vagina é um canal músculo membranoso, com aproximadamente 7 centímetros de profundidade e cuja origem embriológica ocorre as custas da fusão e canalização dos ductos de Muller com o seio urogenital.
As neoplasias da vagina, benignas, intra-epiteliais e invasoras podem ter origem em qualquer porção, dependente do seu fator promotor.

O trato genital inferior compreende larga área de epitélio escamoso estratificado e especializado recoberto, em parte, por pele pilificada. Este epitélio, de origem cloacal, é exposto a semelhantes carcinógenos em toda a sua extensão. Entretanto, não é surpreendente que a neoplasia escamosa seja multicêntrica (diversos sítios anatômicos do trato genital inferior) e multifocal (diversos focos em cada sítio anatômico).

Os tumores benignos, alguns provenientes de mal formações embriológicas, outros adquiridos, são de pouca significância, visto que a grande maioria destas lesões são assintomáticas e sem potencial oncogênico, exceto, obviamente os condilomas.

As lesões precursoras para o adenocarcinoma de células claras e carcinoma espinocelular, tem denotado maior importância. A adenose, lesão precursora do carcinoma de células claras, tem sua frequência aumentada nas pacientes que foram expostas intra-útero ao dietilestilbestrol, porém hoje há relatos de casos após a utilização do 5-fluoro-uracil, creme vaginal. As neoplasias intra-epiteliais de vagina (NIVA), precursoras do carcinoma espinocelular, vem aumentando sua incidência, com acometimento de mulheres mais jovens, e em franca correlação com a infecção pelo Papilomavírus humano. Os carcinomas precoces de vagina, em geral se originam de uma NIVA. Schneider et al.(1991), avaliando a prevalência do genoma do papilomavírus em tecidos do trato genital inferior, encontraram em lesões condilomatosas, NIVA e neoplasia invasora da vagina, em razoável quantidade de casos o HPV, sendo que os tipos 6 e 11 estavam associados a condilomas, e o tipo 16 associado a neoplasias intraepiteliais e invasoras. A quantidade de DNA viral era baixa em carcinoma invasivo, intermediária em neoplasia intra-epitelial e alta em condiloma.

Os tumores malignos vaginais compreendem 1 a 2% das neoplasias malignas do trato genital feminino. Em geral acomete a raça branca; com efeito, Abrão (1979) relata que 93,3% de suas pacientes eram desse grupo étnico. A idade de prevalência é dependente do tipo histológico. Para Gesta el al. (1989) o grupo mais atingido tem idade superior a 50 anos. Se esses dados podem ser verdadeiros para as neoplasias epidermóides, não o são para outras; de fato, alguns tipos de tumores são encontrados apenas na infância, como por exemplo, o adenocarcinoma primitivo ou tumor do seio endodérmico, o sarcoma botrióide e os tumores mesodérmicos mistos.