Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia
Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia

Papilomatose Vestibular: Normalidade X Diagnóstico Diferencial

Márcia Farina Kamilos
PTGI – Hospital das Clínicas da FMUSP
PTGI – Hospital Heliópolis

A papilomatose caracteriza-se por elevação da superfície causada por hiperplasia e aumento de papilas dérmicas contíguas. Apresenta-se como projeções digitiformes de estruturas papilares, em forma regular, superfície lisa, vasos típicos e sem coalescências. É uma variante anatômica, presente em 40 % das mulheres jovens, no vestíbulo e face interna dos pequenos lábios.

Antes do ano de 1980 a vulvoscopia tinha aplicabilidade limitada, utilizada na lesão clínica, portanto em diagnóstico tardio. Após 1980, com a associação do HPV X carcinogênese, houve tendência à supervalorização das imagens, numa correlação com os achados no colo uterino, e realização excessiva de biópsias. Foram realizadas pesquisas em que se observou ausência de DNA do HPV em amostras de papilomatose simples, mesmo na presença de coilocitose focal, não relacionando micropapilomatose vulvar com o HPV como agente causal.

A Classificação Clínica das Desordens Vulvares de 2011, realizada pela ISSVD (Sociedade Internacional para o Estudo das Doenças Vulvares), caracteriza a papilomaote vestibular e do pequeno lábio como um achado normal, não doença.

Clinicamente são papilas ou micropapilas onde a base de implantação é única para cada papila e o acometimento é difuso, principalmente em pacientes jovens. Não devem ser biopsiadas.

O diagnóstico diferencial deve ser feito conforme o agente etiológico (não viral ou HPV induzida), observando-se as seguintes características: distribuição, palpação, cor, base das papilas, teste do ácido acético a 3% ou 5%, e possível associação de imagens.

Fisiológica (assintomática):
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[item icon=”circle-blank”]Simétrica e linear[/item]
[item icon=”circle-blank”]Palpação suave[/item]
[item icon=”circle-blank”]Rósea[/item]
[item icon=”circle-blank”]Base individual com projeção individual[/item]
[item icon=”circle-blank”]Não acetorreagente [/item]
[item icon=”circle-blank”]Sem imagens associadas[/item]
[item icon=”circle-blank”]O achado anátomo-patológico (AP) esperado é de epitélio escamoso estratificado não queratinizado (lembrar que coilocitose focal não é infrequente e pode levar a conclusões errôneas) [/item]
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Reativa (não viral, sintomática):
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[item icon=”circle-blank”]Simétrica e hipertrofiada[/item]
[item icon=”circle-blank”]Palpação suave[/item]
[item icon=”circle-blank”]Vermelha[/item]
[item icon=”circle-blank”]Base papilar individual com projeção individual[/item]
[item icon=”circle-blank”]Discreta acetorreação [/item]
[item icon=”circle-blank”]Presença de imagens associadas (inflamação)[/item]
[item icon=”circle-blank”]AP: vulvite inespecífica[/item]
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HPV induzida (sintomática ou não):
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[item icon=”circle-blank”]Aleatória[/item]
[item icon=”circle-blank”]Palpação endurecida[/item]
[item icon=”circle-blank”]Vermelha, esbranquiçada[/item]
[item icon=”circle-blank”]Base papilar individual com projeções múltiplas[/item]
[item icon=”circle-blank”]Acetorreagente [/item]
[item icon=”circle-blank”]Presença de imagens associadas[/item]
[item icon=”circle-blank”]AP: condiloma[/item]
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Referências:
Bornstein J, Sideri M, Tatti S, Wlker P, Prendiville W, Haefner H, Nomenclature Committee of IFCPC. 2011 terminology of the vulva of the IFCPC. J Low Genit Tract Dis. 2012;16(3):290-5.
Patologia do Trato Genital Inferior. Editor Nelson Valente Martins. Capítulo 62, Calux N. Edição 2005.
De Deus JM, Focchi J, et al. Histologic and biomolecular aspects of papilomatosis of the vulvar vestibule in relacion to human papilomavirus. Obstet Gynecol, 86:758-763, 1995.
Origoni M et al. Human papilomavirus whith co-existing vulvar vestibulitis syndrome and vestibular papillomatosis. Int J Obstet Gynecol, 64(3):259-263, 1999.

figura1
Figura 1: Papilomatose fisiológica

figura2
Figura 2: Papilomatose fisiológica (grande aumento)

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Figura 3: Papilomatose aleatória, HPV induzida / condiloma

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Figura 4: Papilomatose HPV induzida, com base única para várias digitações

figura5
Figura 5: Papilomatose HPV induzida com acetorreação intensa