ACOG Committee Opinion. Cervical cancer screening in adolescents. Obstet Gynecol 2004;104:885-9.
A Sociedade Americana de Câncer (ACS) recomenda que o rastreamento do câncer cervical deva iniciar aproximadamente três anos após o início de relação sexual vaginal ou até a idade de 21 anos. Uma vez iniciado, o rastreamento deve ocorrer anualmente para as adolescentes.
Esta recomendação fundamenta-se no consenso do conselho nacional de especialistas que revisaram as evidências e concluíram que há pouco risco de perder lesão cervical importante dentro de 3-5 anos após a exposição inicial ao Papilomavírus Humano (HPV). A ACS também apóia esta recomendação por afirmar que o rastreamento antes de três anos após o início da relação sexual vaginal pode resultar em superestimativa diagnóstica de lesões cervicais, que freqüentemente regridem espontaneamente, e que intervenções inapropriadas podem causar mais dano que benefício.
Iniciação do rastreamento do câncer cervical em adolescentes
A decisão sobre o início do rastreamento citológico cervical deve-se basear na avaliação clínica dos riscos, incluindo: 1) idade da primeira relação sexual; 2) comportamentos que podem colocar a adolescente em maior risco para a infecção pelo HPV; e 3) risco de não-aderência às visitas de seguimento. Obter uma história sexual completa e precisa é, portanto, essencial.
Avaliando a idade da primeira relação sexual
Dados específicos de idade mostram que a porcentagem de meninas adolescentes que já tiveram relação sexual aumenta com a idade. Especificamente, 24% das meninas de 15 anos de idade, 38% de 16 anos, 51% de 17 anos e 62% de 18 anos de idade já tiveram relação sexual. Uma das dificuldades no cuidado à paciente ginecológica adolescente é que muitas delas que já começaram a atividade sexual em idade jovem ou experimentaram abuso, provavelmente não confessam a atividade sexual sem questionamento direto. Assim, uma história atualizada deve ser completada em cada visita ginecológica da adolescente.
Fatores de risco para infecção pelo HPV
A prevalência da infecção pelo HPV em mulheres jovens sexualmente ativas varia de 17% a 84%, com a maioria dos estudos relatando prevalência maior que 30%. As adolescentes podem ser mais suscetíveis que as mulheres adultas à infecção pelo HPV por causa de fatores biológicos ou físicos (como imaturidade biológica cervical). Aquelas mulheres que tiveram a primeira relação (voluntária ou involuntária) em idade precoce, têm história de outras doenças sexualmente transmissíveis, tiveram múltiplos parceiros sexuais ou têm parceiro com múltiplos parceiros sexuais também são de alto risco para infecção pelo HPV ou neoplasia intra-epitelial cervical. A imunossupressão (infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, transplante de órgão, quimioterapia para câncer, uso de esteróide crônico para doença renal crônica ou intestinal, condições como lúpus) também é outro fator de risco para infecção pelo HPV.
Dificuldades no seguimento de adolescentes de alto risco
As adolescentes de alto risco são mais prováveis de receber cuidado episódico e têm dificuldade em retornar às consultas de rotina. Há relatos de não-aderência para o resultado de citologia oncológica neste grupo de 25% a 66%.
Citologia cervical anormal e seu supertratamento em adolescentes
A citologia oncológica é um teste de rastreamento, não um teste de diagnóstico. Quando anormal, deve ser aconselhada e acompanhada cuidadosamente. É importante evitar conduta agressiva de lesões benignas porque a maioria das lesões por neoplasia intra-epitelial cervical graus 1 e 2 regride.
Opção aceitável é de seguimento sem colposcopia inicial repetindo a citologia em intervalos de 6 a 12 meses com um limite de células escamosas atípicas para o encaminhamento para a colposcopia, ou o teste de DNA-HPV em 12 meses com encaminhamento para a colposcopia se o resultado for positivo para DNA-HPV de alto risco.
Paciente e educação dos pais
A educação deve incluir informação sobre a necessidade para o cuidado preventivo exclusive a necessidade para o rastreamento do câncer cervical e tempo recomendado para este cuidado. Deve ser enfatizado que as adolescentes devem visitar um ginecologista-obstetra antes de se tornarem sexualmente ativas. Na prática, os dados indicam que este não é o que ocorre. A maioria das mulheres jovens (79%) espera um mês ou mais após sua primeira relação sexual para ver o profissional da saúde, com um tempo médio de 22 meses após a primeira relação. O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas recomenda que a primeira visita a um ginecologista-obstetra para orientação à saúde, rastreamento e fornecimento de serviços preventivos deva ocorrer ao redor dos 13-15 anos de idade. Após esta primeira consulta, visitas anuais ao ginecologista para cuidado preventivo da saúde são altamente recomendadas.
Necessidade para pesquisa adicional
Há dados limitados sobre as seguintes áreas com relação à infecção pelo HPV em adolescentes:
Incidência de lesões intra-epiteliais escamosas de alto grau dentro de 0-3 anos após a primeira exposição do HPV.
Regressão das lesões intra-epiteliais escamosas de baixo grau e de alto grau em adolescentes.
Progressão das lesões intra-epiteliais escamosas de baixo grau e de alto grau em adolescentes.
Supertratamento da citologia cervical anormal
Melhor compreensão da conduta apropriada de adolescentes com anormalidades citológicas cervicais.
Obter dados adicionais nessas áreas de pesquisa irá facilitar o fornecimento do melhor cuidado possível para as pacientes adolescentes.