Dra Franciele Norma Minotto
Médica Colaboradora do Setor de PTGI e Colposcopia do HC – FMUSP.
A função sexual normal envolve uma série de complexos fatores hormonais, psicológicos e socioculturais, de tal forma que a atitude sexual satisfatória se baseia na avaliação feita pelo próprio indivíduo frente ao seu contexto, expectativas e desejos.
As queixas relacionadas à sexualidade estão presentes em grande parte das mulheres brasileiras, sendo a falta de desejo sexual a mais comum, seguida por disfunção orgásmica e dispareunia 1.
Recentemente, amplo trabalho foi realizado nos Estados Unidos a fim de avaliar a prevalência e características das disfunções sexuais, devido às divergências existentes sobre o assunto. Os resultados comprovam que as disfunções sexuais são importantes problemas de saúde pública que podem interferir diretamente na vida emocional e social das pacientes. O mesmo trabalho reafirma a importância do conhecimento médico sobre as principais queixas das pacientes e de formas para resolvê-las 2.
O conhecimento que o HPV é um vírus transmitido sexualmente e que pode levar ao câncer e persistir mesmo após a erradicação da lesão, pode criar trauma psicossexual significativo que interfere nas atividades diárias e sexualidade das mulheres com esta infecção. Entretanto, poucos dados estão disponíveis sobre o impacto psicossexual da infecção pelo HPV. Estudos de mulheres com diferentes patologias genitais relacionadas ao HPV (Papanicolaou alterado, câncer cervical e condiloma acuminado) sugerem que mudanças emocionais e psicossexuais adversas podem ocorrer 3-10.
As reações observadas, entre outras, são: choque, raiva, depressão, isolamento, vergonha e culpa 11,12.
Há relato de sentimentos negativos relacionados ao intercurso sexual, assim como real alteração sexual, incluindo diminuição do desejo sexual, excitação e lubrificação vaginal levando a dispareunia 5,13.
Sexualidade e função sexual fazem parte do bem-estar e da saúde da mulher como um todo e devem estar incluídas na avaliação geral de saúde, para que os ginecologistas possam cumprir sua função: zelar pelo bem-estar e qualidade de vida das mulheres.
Referências Bibliográficas
Abdo CHN, Oliveira Jr. WM, Moreira ED, Fittipaldi JAS. Perfil Sexual da População Brasileira; Resultados do Estudo do Comportamento Sexual (ECOS) do Brasileiro. Revista Brasileira de Medicina 2002; 04: 172-81.
Laumann EO, Paik A, Rosen RC. Sexual Dysfunction in United States. JAMA, 1999; 281 (6): 537-544.
Slatford K, Currie C. Prevalence of psychosexual problems in patients attending a genitourinary clinic. Br J Vener Dis 1984; 60:398-401.
Lerman C, Miller SM, Scarborough R, Hanjani P, Nolte S, Smith D. Adverse psychologic consequences of positive cytologic cervical screening. Am J Obstet Gynecol 1991; 165:658-62.
Campion MJ, Brown JR, McCance DJ, et al. Psychosexual trauma of an abnormal cervical smear. Br J Obstet Gynaecol 1988; 95:175-81.
Andersen BL. Sexual functioning complications in women with gynecologic cancer. Outcomes and directions for prevention. Cancer 1987; 60:2123-8.
Schover LR, Fife M, Gershenson DM. Sexual dysfunction and treatment for early stage cervical cancer. Cancer 1989; 63:204-12.
Andersen BL, Lachenbruch PA, Anderson B, deProsse C. Sexual dysfunction and signs of gynecologic cancer. Cancer 1986; 57:1880-6.
Persson G, Dahlof LG, Krantz I. Physical and psychological effects of anogenital warts on female patients. Sex Transm Dis 1993; 20:10-3.
Clarke P. The psychosocial impact of human papillomavirus infection: implications for health care providers. Int J STD AIDS 1996; 7:197-200.
Linnehan, MJ, Groce, NE. Counseling and educational interventions for women with genital human papillomavirus. Aids Patient Care and STDs 2000; 14(8):439-45.
Guy H. Survey shows how we live with HPV. HPV News 1993;3:1, 4-8.
Filiberti A, Tamburini M, Stefanon B, et al. Psychological aspects of genital human papillomavirus infection: A preliminary report. J Psychosom Obstet Gynaecol 1993;14:145-52.