Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia
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Prevenção do câncer ginecológico

Iniciativa que reduziu a praticamente zero o índice de mortalidade pelo câncer do colo do útero em Jaú/SP, o Programa de Prevenção do Câncer Ginecológico do HAC completou 25 anos em agosto

A ginecologista responsável pelo Programa de Prevençãodo Câncer Ginecológico do HAC, Lenira Queiroz Mauad

Ver mulheres saudáveis, livres desse tipo de câncer evitável e um dos mais incidentes entre as brasileiras motivou a idealização do serviço.

Estruturar o Programa foi um desafio para a ginecologista Lenira Maria Queiroz Mauad e sua equipe, por volta de 1993, quando perceberam que a realidade era preocupante: jovens chegavam ao hospital com câncer do colo do útero em estágio avançado, com pequenas chances de cura. O problema poderia ser a falta de opção para realizar o Papanicolaou, que detecta lesões precursoras da doença. “Antigamente, o exame era vinculada à consulta com um ginecologista, apenas. Então, tivemos a ideia de facilitar o acesso e criamos um projeto piloto, em 1994, com coletas feitas pela enfermagem”.

Assim, começaram as buscas por apoio. Um dos primeiros parceiros do HAC foi a Fundação Oncocentro de São Paulo (Fosp), que capacitou a enfermeira Ana Marta Prado Auler à realização do exame. “O marco inicial dessa história. Estávamos animados para as coletas, mas não tínhamos muita demanda. Então, as profissionais iam até as salas de espera e recepções do hospital para convidar as mulheres que aguardavam para outros procedimentos a fazerem o Papanicolaou”, lembra a médica.

O projeto teve boa aceitação e rapidamente aumentou a procura pelo serviço. “O trabalho estava rendendo bons frutos. Em 1996, em parceria com as secretarias Estadual e Municipal de Saúde, lançamos oficialmente nossas atividades, no dia 15 de agosto – aniversário de Jaú, com a criação do Ambulatório de Ginecologia Preventiva para atendimento e tratamento de todos os casos alterados, além de expandir o atendimento para as Unidades Básicas de Saúde”.

Em 1999, a equipe ganhou uma identidade: o logotipo criado pelo jauense Alberto Massoni, e escolheu o dia 27 de novembro (Dia Nacinal de Combate ao Câncer) e o slogan “Câncer do colo do útero, doença fora de moda”, para ampliar a divulgação do Programa. Em 2000, na mesma data e com o tema ‘uma cidade vestindo uma ideia’, camisetas com a marca foram usadas por comerciários, bancários, professores e trabalhadores da saúde. “Foram confeccionadas 5 mil unidades, distribuídas com apoio do Fundo de Solidariedade de Jaú. Em 2001, foram mais de 11 mil pessoas que vestiram a camiseta e divulgaram a ideia”.

Índice zero de mortalidade

“Nosso objetivo sempre foi incentivar as mulheres aos cuidados com a saúde. O câncerdo colo do útero em fase inicial não apresenta sintomas. É inaceitável que sejamos vítimasde uma doença curável. Ainda mais com um exame simples e gratuito que pode detectarlesões precursoras, quando podem ser tratadas sem complicações, garantindo a cura”,destaca Lenira.

A médica comenta que as orientações ofertadas surtiram efeito: hoje, o Programa temmais de 78 mil mulheres cadastradas. Desde que o Programa foi implantado no HAC, ocoeficiente de mortalidade por câncer do colo do útero passou de 10,22 óbitos para 2,92 acada 100 mil mulheres da cidade. “Em 2004 e 2015, o coeficiente de mortalidade peladoença foi zero. E nos outros anos, foram pouquíssimas mortes ou casos com diagnósticostardios. Ao longo dessa trajetória, graças ao empenho da nossa equipe e de tantosparceiros, conseguimos alcançar a cura através de tratamentos que conservam o útero e afertilidade. Motivo de muito orgulho e satisfação. O câncer do colo do útero, enfim, é umadoença fora de moda”.

Educação em saúde

Com o aumento de cobertura alavancado pela divulgação do Programa, várias açõeseducativas passaram a ser promovidas para alertar a população sobre a necessidadedo diagnóstico precoce e prevenção do câncer do colo do útero. Até hoje, é realizada acapacitação de equipes de saúde da região para orientação e rastreamento das mulheres. OPrograma também organiza, desde 1996, edições locais do Encontro de Atualização emPatologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia (Cervicolp Jahu), para estudantes eprofissionais da área.

Desde 2011, o projeto Futuro sem Câncer é realizado com criança sem idade escolar, para conscientizar sobre a prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero

Em 2011, com materiais didáticos lúdicos, as crianças em idadeescolar (ensino fundamental e médio) participaram da primeiraedição do projeto Futuro sem Câncer, com apoio dassecretarias Estadual e Municipal de Educação. “Alcançar asmulheres através de seus filhos, sobrinhos ou netos, comlembrete sobre a importância do Papanicolaou foi o moteinicial”.

Idealizado para acontecer a cada três anos, o projeto foiatualizado em 2014 quando a vacina contra o HPV(Papilomavírus Humano) foi implementada no calendário deimunização do Sistema Único de Saúde (SUS), acrescentandomaterial didático especifico para estimular a vacina nosadolescentes. “Começamos a preparar as novas gerações, comorientações sobre como evitar a contaminação pelo HPVcausador do câncer de colo do útero e de outros tipos decâncer. Concentramos orientações sobre vacinas para as meninas (de 9 a 14 anos) e meninos (de 11 a 14 anos).

Novas metas

“Estamos cumprindo nosso objetivo inicial, que era evitar mortes pelo câncer do colo doútero. Expandimos nossas atividades para a detecção e prevenção de outros tipos decâncer ginecológico, que são os de endométrio e de vulva. Desenvolvemos nosso serviço,consolidamos um trabalho de educação. E continuamos buscando desafios”, revela aidealizadora do Programa.

A celebração dos 25 anos é um fôlego para atingir novos objetivos, seguindo a meta decombate ao câncer do colo do útero definidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS)para 2030 : 90% dos adolescentes vacinados, 70% das mulheres realizando o exame dePapanicolaou e 90% das que tiverem alterações sendo atendidas e tratadasadequadamente. “Já estamos bem próximos disso na nossa região”, comemora.

 


Fonte: Amaral Informa, agosto de 2021