A infecção persistente pelo papilomavírus humano (HPV) de alto risco é o principal fator etiológico do câncer do colo do útero. No entanto, diversos cofatores podem modular a carcinogênese, e entre eles a infecção por Chlamydia trachomatis tem recebido atenção especial. A clamídia é um patógeno de alta prevalência no trato genital feminino, frequentemente assintomático, capaz de induzir inflamação crônica e microlesões epiteliais, o que poderia facilitar a entrada e a permanência do HPV nas células cervicais.
Além de favorecer a aquisição do HPV, a coinfecção por clamídia está associada a maior risco de persistência viral. Os mecanismos envolvidos incluem alterações no microambiente cervical, comprometimento da imunidade local e modulação de vias de reparo do DNA. Assim, a inflamação crônica induzida pela clamídia cria ambiente propício para a ação das oncoproteínas virais E6 e E7, intensificando o potencial oncogênico do HPV e acelerando a progressão de lesões intraepiteliais cervicais.
Estudos epidemiológicos e metanálises confirmam essa associação, mostrando que mulheres com evidências sorológicas ou moleculares de infecção por Chlamydia trachomatis apresentam risco aumentado de desenvolvimento de neoplasias intraepiteliais cervicais de alto grau e câncer invasivo. Dessa forma, o rastreio e o tratamento deste patógeno devem ser valorizados na prática clínica, não apenas pelo impacto reprodutivo e inflamatório, mas também como estratégia adicional na prevenção do câncer de colo uterino.
Referências
- Silva J, Cerqueira F, Medeiros R. Chlamydia trachomatis infection: implications for HPV status and cervical cancer. Arch Gynecol Obstet. 2014;289(4):715-23.
- Madeleine MM, Anttila T, Schwartz SM, Saikku P, Leinonen M, Carter JJ, et al. Risk of cervical cancer associated with Chlamydia trachomatis antibodies by histology, HPV type and HPV cofactors. Int J Cancer. 2007;120(3):650-5.
- Zhu H, Shen Z, Luo H, Zhang W, Zhu X. Chlamydia trachomatis infection-associated risk of cervical cancer: A meta-analysis. Medicine (Baltimore). 2016;95(13):e3077.
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Dra. Adriana Campaner é Professora Livre-docente / Adjunta da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Médica chefe da Clínica de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia da Santa Casa São Paulo. Presidente da Comissão Nacional Especializada PTGI FEBRASGO gestão 2024-2027 e Membro da diretoria da ABPTGIC Nacional.