O líquen escleroso (LE) é uma dermatose inflamatória crônica de caráter progressivo, que afeta preferencialmente a região anogenital (85 – 90% dos casos).
A doença pode ocorrer em qualquer idade, mas tende a ter pico de aparecimento bimodal: meninas pré-púberes e mulheres na perimenopausa e pós-menopausa.
Clinicamente, caracteriza-se por placas hipocrômicas, podendo ser acompanhadas por hiperqueratose, fissuras e escoriações. As lesões acometem mais frequentemente a comissura vulvar anterior, os pequenos lábios e/ou grandes lábios, embora possa se estender pelo períneo e região perianal formando a clássica lesão em “8” ou “em fechadura”.
Os sintomas principais incluem prurido crônico (em até 90% dos casos), dor, dispareunia, levando a impacto significativo na qualidade de vida. Nos casos mais avançados, pode ocorrer alteração da arquitetura vulvar, com estenose de intróito vaginal e de prepúcio do clitóris.
Do ponto de vista histopatológico, a epiderme é tipicamente afinada, embora áreas de hiperqueratose possam ser observadas, ocorre hialinização da derme subepitelial e infiltrado linfocítico.
A histologia, apesar de útil em alguns contextos, tem limitações relevantes e pode não agregar informação em até 40% dos casos típicos.
Esse dado reforça que o diagnóstico do líquen escleroso é essencialmente clínico e a biópsia não deve ser realizada de rotina em todos os casos, sendo reservada para situações selecionadas:
- Quando há dúvida diagnóstica;
- Na presença de lesões suspeitas de malignidade, como áreas eritematosas, ulceradas ou nodulares;
- Em casos de falha terapêutica após o uso de corticosteroide ultrapotente.
O risco de transformação maligna para carcinoma escamoso vulvar existe e gira em torno de 4–6%.
O tratamento padrão-ouro continua sendo o corticóide de alta potência, como o propionato de clobetasol 0,05% pomada, iniciando com aplicações diárias e reduzindo de acordo com a evolução do quadro.
A resposta clínica é geralmente satisfatória, com melhora dos sintomas e controle da progressão.
O trabalho de Marfatia e colaboradores reforça que o exame clínico cuidadoso é a ferramenta central tanto no diagnóstico como no acompanhamento do líquen escleroso, e ressalta a importância do seguimento contínuo, não apenas para controle de sintomas, mas para detecção precoce de transformação maligna, já que o tratamento reduz o risco de progressão da doença, bem como a evolução para neoplasia intraepitealial diferenciada.
Referência bibliográfica:
Marfatia, Yogesh; Surani, Ashma; BAXI, Reema. Líquen escleroso e atrófico genital em mulheres: Uma atualização. Revista indiana de doenças sexualmente transmissíveis e AIDS 40(1):p 6-12, jan-jun 2019. | DOI: 10.4103/ijstd.IJSTD_23_19.
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Dra. Cristiane Cruz Nervo é coordenadora do Setor de Colposcopia do Laboratório Hermes Pardini – SP. Médica assistente do Setor de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia da Santa Casa São Paulo. Apoio pedagógico da Pós-graduação de PTGI e colposcopia da Faculdade Sírio Libanês. Currículo Lattes: https://lattes.cnpq.br/8333998620135770

