MENSAGEM PRINCIPAL: esta revisão sistemática e meta-análise demonstrou que, utilizando a terminologia colposcópica da IFCPC 2011, a colposcopia apresenta alta acurácia diagnóstica global para lesões escamosas intraepiteliais, especialmente para HSIL, embora com heterogeneidade entre estudos e variação segundo o tipo de achado e nível de experiência do colposcopista. Os resultados reforçam a relevância da padronização terminológica da IFCPC 2011 e da experiência clínica para melhorar a concordância e reduzir falsos negativos.
A colposcopia é etapa fundamental na avaliação de mulheres com rastreamento cervical anormal, mas sua acurácia diagnóstica varia amplamente. Para avaliar o desempenho da terminologia colposcópica padronizada pela IFCPC 2011, Qin et al. conduziram uma revisão sistemática e meta-análise publicada em 2023 na BMC Cancer. O objetivo foi sintetizar evidências sobre a acurácia da colposcopia na detecção de lesões intraepiteliais escamosas cervicais (LSIL e HSIL) com base exclusivamente em estudos que aplicaram a terminologia IFCPC 2011.
A pesquisa foi realizada nas bases PubMed, Embase, Cochrane Library e Web of Science, incluindo artigos publicados até setembro de 2022. Foram elegíveis estudos que compararam achados colposcópicos classificados segundo a IFCPC 2011 com diagnóstico histopatológico como padrão-ouro. A qualidade metodológica foi avaliada pela ferramenta QUADAS-2.
Foram incluídos 25 estudos com 21.430 pacientes. A análise agrupada mostrou sensibilidade combinada de 0,91 (IC 95% 0,86–0,94) e especificidade de 0,52 (IC 95% 0,44–0,60) para o diagnóstico de HSIL ou pior, com área sob a curva summary receiver operating characteristic (AUC) de 0,82, indicando desempenho global bom.
Ao avaliar lesões de baixo grau ou piores (LSIL+), a sensibilidade agrupada foi 0,87 (IC 95% 0,82–0,91) e a especificidade 0,43 (IC 95% 0,35–0,51), refletindo limitação na distinção entre achados normais e anormais menores. Já para lesões de alto grau ou piores (HSIL+), a sensibilidade e a especificidade foram 0,84 (IC 95% 0,77–0,89) e 0,69 (IC 95% 0,61–0,76), respectivamente, demonstrando maior valor preditivo positivo quando os achados colposcópicos são de alta gravidade.
Entre os achados específicos descritos pela IFCPC 2011, os sinais colposcópicos que apresentaram maior especificidade para o diagnóstico de HSIL + foram: mosaico grosseiro, pontilhado grosseiro e vasos atípicos. Esses achados mostraram alta capacidade preditiva para lesões intraepiteliais escamosas de alto grau.
Por outro lado, mosaico fino, pontilhado fino e epitélio acetobranco tênue foram frequentemente associados a LSIL +.
Achados como: sinal de borda interna (inner border sign) e sinal de crista (ridge sign) também demonstraram correlação moderada com HSIL +, indicando que esses descritores da terminologia IFCPC 2011 podem auxiliar na diferenciação entre lesões de alto e baixo grau quando reconhecidos adequadamente por colposcopistas experientes.
A análise de subgrupos mostrou que a experiência do colposcopista impacta significativamente a acurácia diagnóstica — centros com profissionais experientes apresentaram sensibilidade de até 94%, enquanto estudos com examinadores em treinamento apresentaram desempenho inferior.
A principal limitação identificada foi a heterogeneidade entre estudos (I² = 98%), atribuída a diferenças de desenho, tipo de população, critérios de referência histológica e variação na aplicação dos descritores da IFCPC. Além disso, poucos estudos relataram reprodutibilidade interobservador, apontando necessidade de padronização adicional no ensino e treinamento.
Os autores concluem que, embora a colposcopia não substitua os métodos moleculares ou histológicos, o uso consistente da terminologia IFCPC 2011 melhora a confiabilidade diagnóstica, permite comunicação clínica uniforme e orienta melhor a decisão sobre biópsias dirigidas.
Em síntese, a terminologia IFCPC 2011 fornece base sólida para interpretação colposcópica, mas sua precisão depende de treinamento adequado e correlação clínica-histológica, reafirmando o papel da colposcopia como exame complementar essencial no manejo das lesões cervicais intraepiteliais.
Dra. Cristiane Cruz Nervo
- Coordenadora do Setor de Colposcopia do Laboratório Hermes Pardini – SP.
- Médica assistente do Setor de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia da Santa Casa São Paulo.
- Apoio pedagógico da Pós-graduação de PTGI e colposcopia da Faculdade Sírio Libanês.
Fonte: Qin D, Bai A, Xue P, Seery S, Wang J, Mendez MJG, Li Q, Jiang Y, Qiao Y. Colposcopic accuracy in diagnosing squamous intraepithelial lesions: a systematic review and meta-analysis of the International Federation of Cervical Pathology and Colposcopy 2011 terminology. BMC Cancer. 2023;23(1):187. doi:10.1186/s12885-023-10648-1.

