É de amplo conhecimento que a infecção por vírus do papiloma humano (HPV) é transmitida por via sexual e pode acarretar desde lesões benignas como as verrugas genitais, até câncer das regiões anogenitais e orofaringeais.
No Brasil, números provenientes dos Registros de Câncer e do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/MS) estimaram para 2020, o aparecimento de 16.590 novos casos de câncer de colo de útero com aproximadamente 5.000 mortes.
Essa taxa tem apresentado oscilações, mas não tem apresentado queda nas últimas décadas, apesar dos esforços e gastos com rastreamento e prevenção. [1]
Dentre os cânceres associados com a infecção por HPV, como em pênis, vagina, vulva, anus e orofaringe, o único com recomendações de rastreamento é o câncer
de colo de útero, o qual é realizado pelos ginecologistas. Assim, exceto para o colo uterino, os cânceres de outras localizações são detectados, geralmente, após
surgirem sintomas. [2]
A associação entre o rastreamento periódico e a vacinação contra HPV é a principal estratégia para eliminar o câncer de colo de útero. A vacina contra HPV tem recomendação para todos pré-adolescentes e adolescentes desde 2011, pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, essa vacina é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2014, para meninas entre nove e 14 anos e, a partir de 2017, também para os meninos. A partir de 2020, as idades para vacinação de meninas e meninos estarão equiparadas, a partir de nove anos.
Para garantir a proteção vacinal são necessárias duas doses da vacina, que devem ser aplicadas em um intervalo de seis e 12 meses. Indivíduos que vivem com HIV entre nove e 26 anos também recebem a vacina pelo SUS – neste caso específico, em três doses, em esquema de aplicação 0-2-6 meses.[3]
Entre a população brasileira de meninas de 9 e 10 anos de idade, a primeira dose de vacina de HPV foi administrada em 50-61% e a segunda dose em apenas 22-38%, abaixo da meta de 80% de cobertura do Programa Nacional de Imunizações (PNI). [4]
Coberturas acima de 80% com a vacina contra HPV podem prevenir também as lesões precursoras, diminuindo a necessidade de testes de rastreamento e de
tratamentos invasivos, seguimentos desgastantes e prejuízo no futuro obstétrico. [5,6]
O Ministério da Saúde (MS) esclarece que a vacina contra HPV é segura e eficaz e, assim como todas as vacinas ofertadas pelo PNI, passam por um rígido processo de validação e registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). No entanto, como qualquer medicamento, pode causar Eventos Adversos Pós-Vacinação, embora sejam raros.
A vacina contra HPV está sendo utilizada em mais de 80 países no mundo e não há, até o momento, qualquer evidência reportada que relacione o uso da vacina contra HPV com quadros graves ou neurológicos. Inclusive, a Comissão de Segurança de Vacinas da OMS em 2017, lançou um documento reafirmando a segurança dessas vacinas após 270 milhões de doses aplicadas.
Por fim, no dia mundial da conscientização da prevenção da infecção por HPV, precisamos alertar para a necessidade da utilização das ferramentas que temos para controlar os cânceres relacionados à infecção por HPV. Lembrar dos testes diagnósticos oferecidos como citologia e principalmente lembrar da segurança com as vacinas contra HPV, que se aplicadas com coberturas adequadas, teremos as próximas gerações livres de câncer de colo uterino.
Referencias
- Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva / INCA / Estimativa de Câncer no Brasil, 2018. Disponível em:
https://www.inca.gov.br/numeros-de-cancer. Acessado em 4 de março de 2020. - Spencer JP, Pawlowski TRH, Thomas S. Vaccine Adverse Events https://www.aafp.org/afp/2017/0615/p786.html. Acessado em 29 de abril de 2019.
- Programa vacinal para mulheres. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia; 2017. 170p. (Série Orientações e
Recomendações FEBRASGO; no.9/Comissão Nacional Especializada de Vacinas). - Ministério da Saúde. Ministério da Saúde convoca 10 milhões de adolescentes para vacinação de HPV e meningite. Março de 2018. Disponível em:
http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/marco/13/Campanha-HPV-2018.pdf. Acessado em 4 de maio de 2019. - Roteli-Martins CM, Longatto Filho A, Hammes LS, Derchain SFM, Naud P, Matos JC, Etlinger D, Sarian L, Gontijo RC, Maeda MYS, Syrjãnen KJ. Associação entre idade ao início da atividade sexual e subsequente infecção por papilomavírus humano: resultados de um programa de rastreamento brasileiro. Rev Bras Ginecol Obstet. 2007;29(11):580-7.
Excelente cecilia
Obrigada querida!